14.02.11

"Ojos de agua", primeira obra do galego Domingo Villar, é um pequeno romance policial (153 páginas) que nos introduz a uma dupla de investigadores, o Inspector Leo Caldas e o seu colega Rafael Estevez, dupla que regressa no seu segundo romance, "La playa de los ahogados".

O Inspector Caldas e Estevez investigam a morte de um músico de jazz, numa torre de apartamentos, na ilha de Toralla, Canido (Vigo), uma morte com requintes de malvadez, que me inibo de descrever.

Caldas insere-se na tradição de inspectores e detectives para quem a comida e a reflexão são parte indelével da caracterização, percebe-se que Villar leu Camilleri e Vazqués Montalban.

Uma das primeiras coisas que salta à vista é a opção pela ausência de títulos nos capítulos, Villar opta por uma entrada de dicionário em cada um dos capítulos, uma palavra com os seus diversos sentidos.

Sendo um primeiro romance, curto ainda por cima, Ojos de Agua é, antes de mais, uma apresentação da dupla de agentes e da Galiza, região onde a acção se desenrola.

Caldas fala pouco, é o cérebro da dupla, o seu nome é conhecido por toda a região, fruto da participação num programa radiofónico, "Patrullando en las ondas". Estevez é o oposto de Caldas, aragonês, enviado para a Galiza de Saragoça, mostra-se incapaz de perceber ou aturar a forma de ser galega. Estevez funciona como comic relief do romance, já que por ferver em pouca água, acaba por gritar com as suas testemunhas, quer sejam jovens ou adoráveis anciãs, com empregados de balcão e com quem mais apareça à sua frente. Imaginem como reagirá quando a investigação o levar (a ele, homofóbico) a um bar gay!

Paradoxalmente, Ojos de Agua preocupa-se mais na descoberta de um enigma (Quem matou o saxofonista) do que na definição dos personagens, na descrição do mal (como, por exemplo, Mankell, que nos coloca dentro da mente do assassino) ou da acção pela acção. Ao terminar o romance, fica-se com uma pálida noção de quem são estes dois personagens. Sabemos que Estevez tem quase dois metros e cerca de 130 quilos, de Caldas, sabemos que é calmo, que gosta de comer e que é assombrado pela memória de Alba, antiga, muito recente?, paixão.

Ainda assim, a curta duração do romance serve para descrever o espírito, os hábitos, a geografia e a culinária galegas.

Concluindo, Ojos de agua satisfaz, pelo estilo e pelo final convincente, mas abre o apetite para futuras continuações.

La playa de los ahogados já está na estante.

publicado por wherewego às 14:04

24.01.11

Leio no i que o dia de hoje, 24 de Janeiro é, matematicamente explicado, o pior do ano, o mais deprimente do ano, tenho dificuldade em acreditar nisto depois da certeza que não há campanha eleitoral por mais um mês, claro que a vitória de Cavaco pode explicar a depressão, mas prefiro olhar para isto pela outra face da moeda.

 

Pela 2ª vez na minha vida decidi não votar. A pergunta que mais queria ver respondida, Para quê? , não foi respondida. Atenção que não perguntava o porquê, questiono a utilidade do voto e o custo-benefício pessoal. Ouvi a minha avó replicar algumas das últimas palavras do meu bisavô, sobre a importância do voto, compreendo-as à luz da ditadura. Tive duas cadeiras no Mestrado relacionadas com política e com o papel dos cidadãos na política e estou na mesma. O meu voto queda-se simplesmente no meu direito/dever? E depois? Terão os cidadãos hoje um papel que não o de eleitores? De que forma olham os políticos para os cidadãos? A Assembleia que nos representa e devia ser a nossa representação parece ser pouco mais do que um circo alimentado pelos soundbytes facultado a posteriori pelos media. Há programas políticos? Para que servem? Cinicamente, diria que simplesmente para cativar votos.

Factual e pragmaticamente, para que precisamos de um Presidente da República? Ouvir um Senhor que durante quatro anos fechou os olhos, limitou-se a dizer três ou quatro frases mais ou menos fortes e que acorda durante a campanha e decide dizer que estamos mal, muito mal. O que é que esteve a fazer durante estes últimos anos? Ouvi-o falar sobre os Açores, acredito que terá apanhado sol a mais. Pouco mais... Para que precisamos de um Presidente da República? Para quê?

Chafurdar na má língua, maldizer e acusações múltiplas sem uma palavra para a realidade, o que fazer com ela, como mudá-la. A campanha foi isto, como quase sempre é, pouca discussão altiva, muita crítica pessoal. Eu quero lá saber se a pessoa é séria, que raio de argumento é esse?  Ser sério não me capacita para dar aulas, ajuda, mas não responde a nenhum pergunta sobre a matéria. Eu quero lá saber se a pessoa quer ir para Belém a menos que o matem, e não vai (em que ficamos), para Belém. Não percebi o que estes senhores queriam fazer em Belém, o que queriam fazer com o cargo. O único que me respondeu foi Alegre, "não coloquem um Governo e um Presidente de direita", uh?

 

Não, não fui votar, mas se querem culpar alguém culpem esta gente que fez tudo menos dar-me uma razão lógica para o fazer. É o meu direito? É o meu dever? Devo lá ir nem que seja para colocar um voto em branco? Tenho mais que fazer.

Há dez anos eu não era assim, orgulhava-me do meu direito de voto. Hoje, quanto mais leio, quantas mais entrevistas ouço, quantos mais debates vejo, menos vontade tenho de contribuir para a boa vida de poucos. Vejo pouca diferença entre um debate na Assembleia da República e um PPV de Wrestling, o poder está na forma como se ataca ou ignora os adversários. Enquanto não me derem uma razão para votar, desculpem, mas não me interesso por bibelots.

 

 

publicado por wherewego às 11:06

18.01.11

Ando a descobrir o Conan de Robert E. Howard. Li e reli as bandas desenhadas dos anos 70 e 80, escritas por Roy Thomas e desenhadas por Buscema, Alcala e Windsor-Smith, entre outros, mas só agora mergulho nos originais dos anos 30.

Há duas semanas li o conto que deu origem a algumas das minhas bandas desenhadas preferidas, Queen of the Black Coast, em que Conan conhece Belit e durante algum tempo reinam juntos nas águas da Costa Negra. Um conto breve, que Roy Thomas irá ampliar décadas depois na Marvel. Lembro-me bem da morte de Bélit nos comics,  a morte dela foi uma surpresa, mas a força e beleza da história ficaram-me marcadas.

Lendo o conto original, relembro alguns dos quadradinhos e penso que, neste caso, o original perde força, mais não seja, perante a quantidade de vezes que li a versão em quadradinhos, demasiado forte em mim.

publicado por wherewego às 09:47

No Sábado em casa da M. no meio da conversa, íamos dando uma olhada na tv. Parece que eles andam a ver dois canais de culinária, e falámos um pouco, ou ouvimos, sobre alguns dos programas.

Ontem, o jantar foi regado com Iron Chef America, uma espécie de concurso, em que dois chefs e as suas equipas têm 1h para fazer uma refeição usando um ingrediente secreto.

Palpita-me que há mais um canal obrigatório na tv lá de casa.

publicado por wherewego às 09:44

 

Dave Brubeck

publicado por wherewego às 09:40

14.01.11

Saído do trabalho, dirigi-me a um centro comercial para fazer compras no Continente. Não havia muita gente, para minha surpresa, e quando chegou o momento de escolha de caixa, escolhi a que tinha somente um carrinho em fila.

Normalmente, sou um bocadinho stressado nestas coisas, mas ontem a coisa deu-me para o riso interior. No carrinho à frente do meu, estava um casal, no início dos 30, carro atafulhado de compras. Quando começaram a arrumar as compras no tapete, vi que as arrumavam por secções, tiravam uma coisa e metiam mais à frente, outra vinha mais para trás, o que fez com que, no início, as compras no tapete tivessem dez cm de distância. Para além disso, tinham cuidado na forma como colocavam as compras, por vezes, alterando a disposição inicial do produto. Uns pacotes de manteira que foram colocados na horizontal viram a sua posição inicial alterada, ficaram na vertical. Tudo muito compassada e paudamente, com um certo grau de ritualismo, mesmo. 

20 minutos demorei eu até começar a colocar os meus produtos, mas não sabia se havia de mandar vir com eles ou continuar a divertir-me com as taras alheias.

Optei pela continuação do divertimento.

Eles foram-se embora, eu coloquei as minhas compras no saco, paguei, voltei ao carro e, ao lado do meu, lá estavam eles, decidindo a melhor posição para cada saco.

Moral da história, arrumei as minhas compras, liguei o carro e fui-me embora, eles ainda não tinham entrado no carro.

Ufa. 

publicado por wherewego às 12:41

12.01.11

Ando a ler o último livro de Anne Holte, um dos nomes grandes da literatura policial nórdica. É o primeiro que leio dela e por enquanto a leitura tem sido lenta, demasiado, quase por obrigação. Vou com um terço do livro lido e o click ainda não apareceu, continuo a obrigar-me a lê-lo. Uma desilusão, portanto, até ao momento.

publicado por wherewego às 12:20

Durante um dia ficámos sem tv, telefone e internet. Ontem, uma equipa resolveu, em parte a situação, a internet continua em baixo, mas não liguei por não saber se o problema é deles ou do pc.

A realidade é que a partir do momento em que liguei a fazer a queixa até ao momento da resolução passaram três horas no máximo, depois de resolvida a situação, ligaram-me a perguntar se já tinha dado pela alteração e disponíveis para resolver alguma dúvida. A MEO pode ter várias queixas, muita gente pode dizer raios e coriscos, mas na realidade, no que a mim me diz respeito, não a trocava pela Zon, por nada.

publicado por wherewego às 12:17

Ando a escrevinhar uma coisa um pouco diferente de tudo o que tenho escrito, não no tom, que é o de sempre.

A escrita da tese foi cansativa, mas ao mesmo tempo libertadora de alguns constrangimentos. Como sabe quem já me leu, nunca fui de textos muito longos, agora tento pragmaticamente escrever algo com outro fôlego. Não sei o que sairá dali, se sairá alguma coisa, mesmo.

publicado por wherewego às 12:14

11.01.11

Nestes últimos anos passei da crença para o cinismo, no que à política diz respeito. Em vez de discussão, vejo tricas, parece um concurso de maldizer, não consigo discernir uma vontade real em resolver os problemas.

Não será à toa que o entusiasmo dos portugueses pelas actuais eleições presidenciais seja menor do que há pouco menos de dois anos com as eleições presidenciais americanas. Fala-se menos e com menos vigor de Alegre e Cavaco do que de Obama e Palin, o que é sintomático. Conscientes disto, ou não, os candidatos presidenciais introduziram uma tática comum nas eleições americanas, a política suja. Vale tudo menos discutir o que interessa ao povo, ao país. Num cartoon de um humorista nacional, um indivíduo perguntava ao outro se já tinha escolhido em que banco é que ia votar, nas actuais eleições.

Alegre teve ontem o primeiro laivo de sensatez, ainda que pelas razões erradas. Pediu a Cavaco que suspendesse a campanha, sim, sim, por favor, para impedir o FMI de se instalar no nosso país.

Estou muito pouco interessado na identidade do próximo Presidente nacional, não me podia desinteressar mais, expliquem-me duas coisas.

Para que é precisamos de um Presidente, não, a sério.

E porque é que hei-de votar. Uma razão prática. Para que é que serve o nosso voto? O povo só é tido em conta em momentos de eleição, depois... entra em hiato.

 

publicado por wherewego às 11:09

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