Aqui no blog parece que 2 ou 3 linhas chegam para descrever os mapas das nossas viagens literárias, o que realmente é pouco e nem chega para aguçar o apetite.
Ando, neste momento, em dois universos diferentes.
Leio o Planisfério Pessoal de Gonçalo Cadilhe, um relato da sua volta ao mundo e Bartleby & Companhia de Enrique Vila-Matas sobre a Não literatura, ou melhor sobre os escritores que quiseram deixar de o ser, ou lutaram para evitar sê-lo.
Dois prazeres. Distintos, mas prazeirosos, assim como o Donkeys dos Tindersticks que me serve de banda sonora enquanto escrevo.
Gonçalo Cadilhe veste a pela de aventureiro num tempo em que o que conta é a rapidez com que se chega a um lugar. Gonçalo decidiu viajar por terra e mar e não pelo ar. É uma viagem com pessoas dentro, com V de viver e viajar, com T de troca, com R de relacionamentos.
Tem sido um prazer ler o conjunto de crónicas anteriormente publicadas pelo e no Expresso (na Revista Actual).
Pequenas histórias, experiências, vivências que nos levam a ter um pouco de inveja. O viajante não é só aquele que vai até certo sítio, é aquele que vive, experiencia e aprende com o que vive.
Gonçalo, posso tratar-te por tu? Viaja pelo nosso Portugal e lavra-a em livro, gostaria de ler sobre o resultado.
Enrique Vila-Matas, do qual comprei 6 livros na Bertrand por 20 Euros (na Fnac conseguem por 18!!!), trata em Bartleby & Companhia dos Não escritores, da Não literatura. Daqueles que lutaram para deixar de escrever, ou que tentaram esquecer que já tinham escrito.
Porque tudo já tinha sido escrito, porque o tio Celerino tinha morrido (e era ele quem lhe contava as histórias), porque os móveis não escrevem (e alguns se sentiam móveis), entre tantas outras razões...
Bartleby é uma viagem ao cerne da lietratura, ao coração desta, questiona a alma dos que lêem, mas também dos que escrevem ou decidem não fazê-lo.
A pergunta porque ler dá lugar à pergunta porque escrever, para quê? Longe da economia de mercado e das leis económicas que regem o mercado livreiro Vila-Matas desnuda a escrita, o humor e o desespero de quem ama as letras.
Enfim, 2 viagens. A dois universos e por meios de transporte bem diferentes.
2 viagens. 2 Bandas sonoras diferentes, já que os Tindersticks deram lugar a um concerto de Leonard Cohen.
Agucei o apetite? Espero que sim...
Quem tem fome, coma!
(Faltam umas passagens de cada livro para aguçar o apetite, mas espero colocá-las em posts autónomos)