O que não quer dizer que não veja produtos de Hollywood, mas são mais séries, e a culpa desta mudança de atitude é, também, do DVD.
No fim de semana passado, olhei para a colecção de DVDs e escolhi um que ainda não tinha visto.
The French Connection/Os Incorruptíveis Contra a Droga. A bem dizer, não sabia se já o vira e não me lembrava dele, ou se realmente nunca o tinha visto. Não tinha!
Na capa podemos ler que se trata de um filme violento e rápido. Talvez, na altura fosse rápido, achei-o lento, positivamente lento, mas continua a ser um filme violento, principalmente na forma como aborda as situações e as personagens.
A história é baseada em factos verídicos, e trata da forma como dois polícias descobriram e desmantelaram uma rede de tráfico de droga.
Gene Hackman (aqui, com 41 anos) faz um dos melhores papéis da sua carreira, Roy Scheider (o de Tubarão) é irrepreensível naquele estilo quase europeu, pouco extrovertido que, na minha opinião, o caracterizava, e Fernando Rey, o actor espanhol (aqui a fazer de francês – como é normal a esquizofrenia entre os actores europeus a trabalharem nos EUA) mostra a sua qualidade.
Penso que o filme, como está, não teria o mesmo sucesso hoje. É claramente um produto dos anos 70. A forma de realizar, pairando e estudando as personagens, lenta e rápida ao mesmo tempo, dificilmente apelaria ao espectador “normal” de hoje. Nela não temos os heróis cheios de clichés a que nos habituámos estupidamente. São personagens reais, com os seus fantasmas, vícios, e taras. São personagens atormentadas com o passado e o peso do presente, com a necessidade de ter sucesso na sua investigação, cometendo erros, demasiado, infantis, que todo e qualquer espectador apontaria.
A densidade psicológica é uma realidade ao longo de todo o filme, o final é cru(el) e ambíguo. Ficamos na dúvida sobre o que acontece realmente, o que nos obriga a pensar no filme como um todo.
De antologia é a cena de perseguição, perseguição que fez estragos reais, quando um indivíduo ia a sair, de carro, de casa e foi abalroado pelo carro conduzido por Gene Hackman. Os produtores decidiram pagar os estragos e aproveitar o acidente nas cenas do filme.
Há, no entanto, para mim uma cena que define o filme, o final da perseguição. Com Popeye Doyle e criminoso ambos extenuados, ambos feridos e mesmo assim engajados num último (e para todos os efeitos, primeiro) duelo.
William Friedkin (o mesmo de Exorcista) assina este clássico da 7ª arte.
Uma boa (e barata – por menos de 10€ nas FNACs e WORTENs) prenda de natal para quem gosta do género policial e está farto dos fracos produtos contemporâneos.