O historiador Oliveira Marques, considerado um dos maiores especialistas de história da Idade Média, faleceu, na terça-feira à noite, no Hospital de Santa Maria, vítima de problemas cardíacos.Este académico de 73 anos era uma referência para quem estudou história durante o Estado Novo e um dos historiadores mais modernos do seu tempo, segundo António Hespanha.Em declarações à TSF, António Hespanha lembrou que Oliveira Marques fez parte de um pequeno grupo de historiadores da sua geração que foram «modernos e internacionalizados, cumprindo as regras da arte tal como se cumpriam no estrangeiro».Este companheiro de Oliveira Marques recordou ainda o descomprometimento do historiador agora falecido com as ideias do Antigo Regime e a sua imparcialidade.Oliveira Marques, que chegou a dirigir a Biblioteca Nacional, foi perseguido pelo regime salazarista, tendo leccionado durante alguns anos no estrangeiro, apenas regressando a Portugal depois do 25 de Abril.O historiador António Hespanha realçou ainda a importância da História de Portugal de Oliveira Marques, que acompanhou durante décadas os alunos do Ensino Secundário e das universidades.«Para além da qualidade da área da especialidade dele, que era a História Medieval, ele tratou pela primeira vez com abundância, rigor e actualização o período contemporâneo. Publicou uma história da República, também inédita, uma zona absolutamente interdita pelo Estado Novo na historiografia das universidades e do Ensino Secundário», lembrou.Os trabalhos de Oliveira Marques sobre a I República e o Estado Novo despertaram o interesse do historiador Fernando Rosas, que recordou a capacidade de Oliveira Marques em formar equipas e motivar os seus alunos.«Era um homem que sabia fazer futuro em História. Sei do que falo porque se pude enveredar pelo estudo da história do séc. XX e do Estado Novo, em particular, em grande medida o devo ao apoio, sugestões e iniciativa de Oliveira Marques», explicou.Numa declaração escrita enviada à agência Lusa, Jorge Sampaio considerou que Oliveira Marques foi um «grande historiador»O antigo Presidente da República adiantou que este académico deixou uma «obra vasta e original que renovou a historiografia em temas fundamentais e períodos tão diversos como, por exemplo, a época medieval ou a I República».«Fica-nos também a memória de um cidadão empenhado e activo que se manteve toda a vida fiel às suas convicções políticas da juventude quando iniciou o seu combate pela Liberdade, Democracia e República», acrescentou.O corpo do antigo historiador, que foi condecorado em 1998 por Sampaio com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, vai estar em câmara ardente, no Palácio Maçonico, no Bairro Alto, em Lisboa. O funeral realiza-se na quinta-feira às 14:00.
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