28.03.07
No Sábado, a propósito de uma coleção de cds que o Público anda a oferecer/vender, leio uma entrevista dos Delfins. A páginas tantas, ou a linhas, Miguel ângelo fala da música 1 Lugar ao Sol, e diz que "Da nossa primeira fase, foi das melhores coisas que fizemos".
E há alguma coisa que se aproveite da 2ª fase, pergunto eu?
publicado por wherewego às 12:29

Tirei uma mão cheia de amêndoas, daquelas caramelizadas.
Relembrei o meu pai, Deus o tenha, “10 segundos na boca, dez anos nas ancas…”. Tirei mais umas quantas. Sorri, um sorriso triste, é sempre triste quando me lembro dele. Morto há um ano, num estúpido acidente de viação. Não são todos os acidentes estúpidos?

Olho para o meu filho, que aos três anos não sente muito a falta do avô, já o esqueceu. Eu relembro-o várias vezes. A alegria com que vivia, um sorriso sempre pronto a desfazer a cara mais triste. Uma saúde de ferro. E de que valeu isso perante o camião com o pneu furado que foi de encontro a ele?

Lembro-me de ser pequena e ir a uma igreja com os meus pais. Das poucas vezes que fui a uma igreja. Talvez a primeira vez, num frio e molhado mês de Abril, numa igreja pequena, no Baixo Alentejo. Ali, ouvi a história da Páscoa. Como um homem, que também era Deus, tinha morrido numa cruz. Por todos nós. E o meu pai desfeito, o caixão ficou fechado, nada do que lá estava dentro nos poderia lembrar dele. Um pedaço de carne desfeito, ou pedaços a acreditar no meu marido. A cruz deu lugar a um monte de metal contorcido.

O ano passado lembrei-me daquela igreja, do significado, original, da Páscoa. E o meu pai morto.
“Mãe, dá-me um chocolate, um ovo desses. Dás-me?”
Agarro num ovo de chocolate, da marca que o meu pai me comprava, desembrulho-o e dou-o ao meu filho. Tento sorrir. Louro como o pai, irrequieto como a mãe. Guloso como os dois.

“Vamos?” –pergunta o meu marido. Depois de encher o carro com as três malas. Tanta mala para três dias.
Pego em mais algumas amêndoas, coloco duas na boca e sorrio. Chamo o António, visto-lhe o casaco. Vamos passar o fim de semana a casa da minha mãe. Será que ainda conseguirei sorrir na presença dela?

E assim entro no carro, a mastigar as duas últimas amêndoas, e o António lambuzado, a comer o ovo da Páscoa.
Pós-Título: Páscoa
publicado por wherewego às 12:00

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