Um dos segredos dos bons policiais ( e de algum tipo de terror) é um bom mistério e a forma como ele se desenrola. Um bom mistério com uma explicação frouxa afasta-nos do objectivo e leva-nos a chamar nomes a quem nos obrigou a roer as unhas durante algum tempo.
Com Ausentes, o filme que vi no Sábado à noite, aconteceu isso.
Spoilers start here - à boa maneira anglo-saxónica!
O filme relata-nos a história de um casal, em que a companheira passa por maus momentos e já passou por alguns médicos. Ela não é a mãe dos dois filhos do companheiro, e ao entrar na condomínio fechado, para onde se mudam, o relacionamento com o mais velho e depois com o marido começa a deteriorar-se.
Ela não vê ninguém, com excepção de uma estranha mulher que vê em sua casa, e só nos intervalos (sombras) da luz. A única pessoa com quem mantém algum contacto é com o enteado mais novo, que a trata por mãe amiúde.
No fim, depois de muita tensão e descalabro psicológico descobrimos que a personagem principal é mesmo a mãe dos dois miúdos, e que afinal o segredo para o desenlace é a sua esquizofrenia.
Fiquei desiludido, essencialmente porque as regras estão viciadas. Vemos o filme pelos olhos dela, e aos olhos dela vemos a realidade real e a realidade inventada, percebemos isso no fim, mas é demasiado escondida para que o desenlace tenha o final das tragédias gregas.
Qual mais calmo, mais contente, mais apercebido do mundo, qual quê!
Apeteceu-me dar uma valente sova no argumentista...enganado e zangado.