Começo agora por começar a fazer alguns pequenos apontamentos dos meus DVDS. Por nenhuma ordem especial, ou melhor, pela oportunidade que tenho em os (re)ver.
A Lista é longa, comecemos por um francês.
Uma das coisas que mais prazer me dá é conferir a forma como se constrói um texto, a disposição de argumentos e o ponto de vista. O ponto de vista é essencial para determinado texto.
Penso que uma das razões que me levou a distanciar um pouco (cada vez mais, fiquei engasgado na 6ª Série) de 24 tem a ver com a míriade de traidores que podemos encontrar no CTU, na Administração Americana, etc. Serão traições a mais para quem, como eu, é agarrado a West Wing. São duas visões demasiado opostas, e que a determinado momento cansaram-me em relação a uma das séries (neste caso a de 24). Ainda que me tenha aguentado, vibrado e delirado com 4 séries, a partir da 5ª...
Tudo isto para falar de espiões. Devo ter visto todos os filmes de James Bond, e já não sei o que mais me fascinava. Se a ideia de ser um espião, se as mulheres à volta, se o perigo...os carros nunca me fascinaram, nem os de topo de gama. A partir de Timothy Dalton os 007 deixaram de exercer o mesmo fascínio. Gostei de Casino Royal, mas não o encaro como um 007.
Avançando.
Descobri há uns meses a excelente série (qualquer superlativo usado aqui perde-se) inglesa
Spooks. Spooks retrata o mundo dos espiões do MI5. Os episódios são actuais, alguns proféticos mesmo, e a vida íntima das personagens minimamente detalhada. Graças a Deus que é uma série britânica, se fosse americana os tiros e os efeitos especiais sobrepunham-se à caracterização das personagens, o que não quer dizer que não haja mortes, tiros e traições na série.
Em Spooks para além da política e das ameaças terroristas um dos temas recorrentes é o impacto da vida de espião na vida pessoal do agente (que vida?), outro que tem vindo à tona tem a ver a moralidade das acções perpretadas pelos mesmos.
Isto para falar brevemente de Agentes Secretos, filme francês, realizado por Frédéric Schoendoerffer e interpretado por Vincent Cassel e Monica Bellucci.
Uma equipa dos serviços secretos franceses é enviada a Marrocos com a missão de destruir um navio que transporta armas para a guerra em Angola. Depois de concluída a missão Lisa é presa. Por quem? Será a missão outra?
Ia adormecendo nos primeiros 40 minutos de filme, achei que o pacing do filme era demasiado lento, mas depois o filme apanhou-me e foi-me surpreendendo. Mais do que gadgets, acção e efeitos especiais o filme mostra-nos a mente destes espiões. Vemos a fragilidade (e as forças) de Brisseau (Vincent Cassel) e Lisa (Monica Bellucci), a solidão da profissão, a falta de amigos, a necessidade da mentira e da ocultação de factos a estes e a familiares, a inevitabilidade de obedecer a ordens, a questão moral, o confronto com as ordens superiores.
Não sei se os escritores deste filme vêem Spooks mas há alguns pontos em comum, ainda assim a aproach é ligeiramente diferente.
O filme é realista e forte, optando por dar uma imagem dos superiores dos serviços secretos demasiado autoritária e impessoal (saudades do Harry de Spooks). Há duas ou três cenas que me parecem perfeitamente desnecessárias. Num filme destes, e na cena em que é, a cena de nudez de Monica Bellucci (2 segundos para mostrar as maminhas, porquê?), a cena em que a espanhola é morta (tanta conversa para quê? Ainda assim bem melhor que a cena de Cassel em Ocean´s 12).
Um filme a ver, mesmo por aqueles (ou principalmente por estes) que dizem não gostar de cinema francês. Excelentes interpretações, mas aqui sou suspeito, já que aprecio muito Cassel. Gostei de ver a forma como a câmara mostra o cansaço, quase envelhecimento de Lisa. Monicca Bellucci transfigura-se, envelhece e mostra o cansaço, e este é para mim um dos triunfos do filme.
7/10