Falemos de cinema.
Não vale a pena demorar muito a discutir sobre o estado do cinema em Portugal. Com algumas excepções o resultado final é de qualidade, digamos, duvidosa, ou tende a animar somente um pequeno nicho.
Confesso que só vi dois filmes de Luís Galvão Teles, Elas e o recente Dot Com.
Infelizmente, Elas não saiu em DVD, só o vi três ou quatro vezes, mas não me lembro o suficiente para escrever demasiado sobre ele. É uma comédia sobre mulheres (neste caso o título não engana). quando a flor da idade começa a fenecer. É um filme humano, que muito me agradou.
Dot Com é, ao contrário do que estamos habituados, um filme português.
A história versa sobre a aldeia de Águas Altas, que recebe uma intimação de uma multinacional espanhola para fechar o seu site contra o pagamento de uma indemnização de 500 mil euros, por violação de regras de direitos de autor (os espanhóis pagaram o copyright de Águas Altas, uma marca de água mineral).
A partir daqui a aldeia, desconhecida em Portugal, vai lutar internamente pela melhor decisão a tomar - fechar ou não o site.
O filme é uma crítica bem disposta ao mercado global, mas também ao papel do(s) Governo(s) na dinamização e evolução do interior português. O que me agradou em Dot Com, para além da forma bem humorada, mas séria com que se tratou o assunto foi a caracterização do português. Estamos todos lá, em maior ou menor medida. A aldeia portuguesa passa na tela, com os seus defeitos e qualidades, o desrespeito governamental pela província, o fervor nacionalista, a intriga, as personagens caricatas, o dia a dia repetido ad aeternum, o esquecimento dos valores, a política como fim.
Uma grande surpresa, um filme simpático que merece um visionamento. Vemos coisas bem piores só porque têm o selo de Hollywood.
Já agora, e o DVD de Elas?
Vejam...