04.01.08
Caro Eduardo Pitta, li o post Sexo em Português, mas não concordo com a conclusão.
Já li os dois autores em questão, você e o José Rodrigues dos Santos (JRS). Não li o artigo e se, como você diz, é somente uma desculpa para bater em JRS então acho mal. Se é para fazer uma análise concreta e segura do que tem sido escrito dentro da temática então parece-me lógico que, pelo menos, haja um universo de dois autores (brincadeira, claro!) ou se tenha a coragem de escrever contra o autor, sem desculpas.
Voltando à conclusão, enquanto leitor não há, para mim, comparação entre os dois universos literários, os estilos e as possíveis cenas sexuais (ou o uso que cada uma delas tem dentro da acção/trama). As suas serão mais hard-core, ainda que de maior coerência dentro do género (e já sabe que não gosto de géneros, mas enfim), mais cruas, mais "ordinárias".
Mas, embora discorde com a fórmula do artigo, confesso que sou levado a concordar com algumas das conclusões, do que li de JRS achei que as cenas de sexo eram pirosas, kitsch e por vezes demasiado "extraordinárias". JRS é um autor aceitável dentro do thriller académico que escolheu. Precisará de equilibrar a narrativa e a quantidade de informação científica que quer transmitir ao leitor, e as cenas de sexo parecem-me, no meio disto tudo, um acessório desnecessário.
Daí que, se por um lado ambos os autores utilizem o sexo, a forma como o fazem seja completamente oposta.
Um bem haja...
publicado por wherewego às 20:19


Depois de, no dia de ontem, ter dado espaço à BD americana, deixem-me ocupar algum do vosso tempo a tratar sobre política (a americana, especificamente).
Iowa apareceu durante largos minutos nos nossos ecrãs e nas páginas do jornal. Começam a ser escolhidos os candidatos de cada partido até às 2 escolhas finais.
Devo admitir que já tinha passado pelo Iowa há mais ou menos duas semanas, e que embora as eleições estejam longe do fim, já sei quem vai ser o próximo presidente dos EUA - Matt Santos!
Hum? Ando a ver a 6ª série de The West Wing, e ainda que não atinja os níveis de qualidade das primeiras quatro, é substancialmente melhor que a anterior. Para além da qualidade, torna-se interessante ver esta 6ª série, neste determinado momento, já que nos ajuda a compreender um pouco melhor o modelo e estilo da política norte-americana e, de forma específica, o modelo das eleições americanas, o poder dos media e a influência das campanhas de fundos.
Ora, uma das razões (ou a razão, a bem da verdade) que me levou a ver Charlie Wilson´s War (Jogos de Poder, em português) foi o argumento ser da autoria de Aaron Sorkin, o criador, e um dos argumentistas das primeiras 4 séries, de Os Homens do Presidente.
O que requereu uma certa dose de sacrifício, já que Tom Hanks é um dos actores menos queridos por estas bandas.
Comecemos pela história. Charlie Wilson´s War (CWW) conta a história de um Congressista Democrata, pouco conhecido e importante, que consegue fundos suficientes para armar os "mujahideen" no Afeganistão, na sua luta contra o exército Soviético, em plena Guerra Fria.
Wilson (Hanks) é ajudado/guiado por uma rica texana, Joanne Herring (Julia Roberts), e por um agente da CIA, Gust Avrakotos(Philip Seymour Hoffman).
O filme mostra-nos os meios pelos quais Wilson se movimentava, não só as alas do Congresso e as trocas de ajuda entre congressistas (uma das suas maiores virtudes para arranjar os fundos necessários), mas também as festas desbragadas e o gosto de Wilson por mulheres - as cenas com as suas assistentes, e as reacções que estas despoletam, são hilariantes.
Os jogos de poder (que o título em português retrata), o peso da religião ou uso do nome de Deus na política americana, o poder dos media e os acordos entre inimigos (por ex. Israel e Egipto) são alguns dos temas abordados no filme.
O filme está nomeado para os Globos de Ouro, na categoria de melhor comédia, mas tenho dificuldades em catologá-lo como tal. Para quem viu Os Homens do Presidente, sabe que não se tratava de uma série de comédia, embora houvesse mais momentos de comédia do que em muitas sitcoms. Esta é uma das impressões digitais de Sorkin.
Embora tenha gostado do filme, fiquei ligeiramente decepcionado pela ausência da incontinência verbal típica de Sorkin. Estão lá alguns dos temas preferidos do autor, a questão da guerra, a religião e o humor. Sorkin é verborreico, mas é-o sem que o espectador perca o fio à meada, coisa que não acontece, por exemplo, em Lions for Lambs, que a meio dos diálogos nos perdemos nas implicações. Daí que a expectativa gorada possa não perder por causa disso mesmo.
CWW dá-nos um retrato humano de cada uma das personagens principais. As razões de Wilson para o financiamento estarão demasiado pintadas a cor-de-rosa. Terá havido mais política por trás do financiamento (era o inimigo da Guerra Fria que queriam derrotar) do que razões humanitárias, mas enfim. Está documentado, por alguns dos actores no plano político de então, que um dos objectivos do financiamento era o de levar os Soviéticos a sofrer uma guerra em tudo parecida com a do Vietnam.
O filme foi criticado, por políticos do Governo Reagan, por promover a ideia de que a operação levou ao financiamento e fortalecimento de grupos como a Al-Qaeda e de indivíduos como Osama bin Laden.
E embora isto fique na mente dos espectadores, a mensagem final é mais ácida e real, nem que seja por ser a final.
A de que os Americanos se envolvem demasiado no campo de batalha e que voltam assim que as ofensivas terminam, deixando os autóctones perdidos e sem um guia à altura. É aí que o filme termina, na tentativa de Wilson angariar mais fundos para contruir estradas e escolas, perante o desinteresse totale vendo o adágio de Gust tornar-se realidade.
É uma mensagem política, numa altura em que se fala da retirada do Iraque e preventiva, olhando e relembrando o passado recente. Parafraseando, de novo, Gust - veremos.
Julia Roberts não me convenceu por aí além, continuo a ter dificuldades em ver filmes com Tom Hanks, mas por momentos esqueci-me do "ódio simpático" que nutro pelo tipo, e Hoffman "is on fire".
Concluindo, vale a pena ver este CWW?
Quando comparado com, o já citado, Lions for Lambs ganha. CWW tinha tudo para ser um filme chato, mas não o é, contra todas as expectativas.
Faltará, para mim, um je ne se quois para ser um grande filme, mas entretém, o que já não é mau. Do ponto de vista político, é menos directo e apologista que o filme de Redford e provavelmente melhor por causa disso mesmo.
7.5/10


publicado por wherewego às 10:58

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