Dan Brown terá escrito mais um best-seller e, ainda que este ande às voltas com segredos maçónicos, o alvo é o mesmo - a Bíblia, ou a sua mensagem.
Tal como no anterior, ainda que de forma diferente, Brown tenta desmontar o centro da mensagem bíblica. Anda às voltas com símbolos, mensagens mal interpretadas e Langdon, o personagem principal, descobrirá a verdade escondida nas páginas do Livro.
The Lost Symbol é um melhor livro que o Código da Vinci, consegue fugir aqui e ali ao que já sabemos que vai acontecer e tem um twist final inverosímil, mas interessante.
De resto, a fórmula é a mesma. Símbolos, mensagens secretas, a verdade secreta finalmente desvendada, ainda por cima contra a vontade de Langdon, que se mantém, quase até ao fim, cético, depois torna-se esponja, acreditando em tudo (religiosamente falando).
Aparentemente, Brown chega tarde, depois dos místicos anos 90, mas as "suas verdades" ainda conseguem apelar a muitos em busca de algo. O livro é esotérico, místico, cheio de conspirações e esses são os pontos fortes de Brown, que consegue trazer alguma verosimilhança à trama que descreve, o problema são as fundações. Teologia de polichinelo, com péssima exegese, um conhecimento das raízes das palavras um pouco forçado e um atirar de nomes e mais nomes para dar uma imagem mais real.
Qual o problema, perguntarão alguns, não se trata de um romance? Uma página inicial parece indicar que, como anteriormente, o autor anda entre o romance e o tratado, prometendo dados explosivos. Dizendo-o claramente, Brown escreve para quem quer acreditar no que ele escreve. E penso que ele próprio acredita.
Patologias à parte. Que o senhor tem imaginação não duvido e o romance entretém. Que, e fiquemos numa área que conheço melhor, altere e não compreenda teologia, mas queira ser um doutor da mesma, faz-me mais confusão.
Aliás, Brown não é nada de novo, as suas teorias, ideias e ideais não são novos, são reciclados, por vezes, muito mal reciclados.
Brown parece querer acreditar, mas ao mesmo tempo não consegue, é para ele mais fácil acreditar que a Bíblia tem uma mensagem escondida do que acreditar naquela que claramente usa. Brown escreve que as histórias são pouco recomendáveis e demasiado fantasiosas, mas não consegue, sinal de americanismo primário, desfazer-se dela e aproveita ideias caducas de que o que interessará será algo contido nela, secreto e acessível só a alguns (com usos inimagináveis, ou nem tanto, de versículos para apoiar as suas teses).
É mais fácil acreditar nos poderes do nome de Deus, do Santo Graal (ok, este ele já "explicou"), ou de outros objectos do que na mensagem do Livro.
Depois de ler, ficamos com uma certeza. Pode-se ler a Bíblia de duas maneiras, com ou sem fé ( e esta é atributo de Deus), as obras dos homens são como trapos de imundícia, ainda que por vezes um pouco melhor do que a obra anterior.