21.12.10

Ontem, terminei o Mestrado, defendendo a tese. Contente, claro, acima de tudo, aliviado. Não prometo vir aqui nos próximos tempos, o Natal traz algumas limpezas, visitas e viagens.

Vamo-nos vendo, por aqui.

publicado por wherewego às 11:57

17.12.10

A literatura tem um poder enorme, ou, se quisermos ser mais objectivos, tem vários poderes. Faz-nos sonhar, perder a conta ao tempo que passa, ensina-nos, deseduca-nos, aprende-se palavras e expressões e hábitos e muitas outras coisas novas, aprende-se o poder de uma história.

O papel do escritor é por vezes dúbio, pelo menos na mente de alguns. Não me considero escritor, mas em tempos de novas tecnologias, em que muitos nos lêem por vezes há a dificuldade de dividir as fronteiras.

Tenho o cuidado de colocar em alguns textos a expresssão breves narrativas, partindo do princípio de que todos saberão identificar a natureza ficcional do texto.

E fico surpreendido, vez após vez, com um ou outro comentário, que indica que a ficção foi tida como biográfica ou práxis.

Não sei se os que me lêem, e os que me conhecem, me encaram como um personagem, não sei se o que escrevo é demasiado verosímil ou familiar, ou se simplesmente as pessoas acreditam em tudo o que lêem.

 

publicado por wherewego às 10:51

16.12.10

"Até que a morte nos separe." Lembra-se de olhar para Carla, de sorriso aberto, vestida de branco e dizer esta frase (batida).

Até que a morte nos separe, namoraram durante cinco anos, casaram quando ela engravidou. Teria sido uma menina, mas uma complicação no quinto mês de gravidez levou ao aborto. Terá sido esse acontecimento a abortar também o seu casamento, o amor deles? Não sabe afirmar com certeza. A verdade é que o sexo se tornou mais ocasional, o prazer transformou-se em enfado e, pouco a pouco, o ressentimento passou a ocupar o lugar do amor que cada um sentia um pelo outro.

Não sabe explicar porque é que continuam juntos. Já nada os aproxima, falam pouco um com o outro. Vivem juntos, mas na realidade longe um do outro.

Quando descobriu que Carla o traía com um colega do trabalho não estranhou, ainda que a descoberta o tenha magoado. "Não foi com isto que sonhei." Como é que passamos dos sonhos à triste realidade? "Porque não nos divorciamos?" Durante as primeiras semanas, após a descoberta do caso, esperou que ela lhe pedisse o divórcio, que lhe dissesse que tudo tinha terminado, que encontrara outra pessoa. Esperou... Ainda que nada a prendesse a ele, ainda que o traísse, ela nada disse, ele esperou, sem nada dizer, também.

Enfureceu-se, quando percebeu que alguns amigos sabiam do caso. Pensou em confrontá-la. Três meses depois da descoberta, começou a fazer planos para que a morte realmente os separasse. Passou algumas horas na internet, pesquisou casos reais, tentando perceber o que correra mal em alguns crimes que terminaram com a prisão do marido assassino.

Elaborou um plano.

Um dia confrontou a mulher com o arrefecimento do casamento, chorou, "foi com isto que sonhaste"? Pediu-lhe uma segunda chance, não mereceriam uma segunda hipótese? Queria ser feliz com ela.

Marcaram três dias de férias, mais o fim-de-semana, cinco dias só para eles. Escolheram uma ilha, no meio do Atlântico, longe de conhecidos, uma outra língua, preços especiais de época baixa, clima temperado.

A escolha, que partira dele, era um sonho antigo dela. Ele já estudara percursos, caminhos, locais a conhecer, perigos possíveis. A ilha era conhecida pela sua beleza natural, mas ao longo dos últimos anos alguns turistas mais afoitos tinham conhecido a morte. Planeara três ou quatro hipóteses de a matar. Era uma questão de tempo.

Chegaram ao aeroporto pelas 11h. Ao meio-dia entravam no Hotel, só teriam carro no dia seguinte.

Carla parecia querer dar uma oportunidade ao casamento, nos dias que antecederam a viagem, passaram algum tempo falando do aborto, nunca tinham falado muito sobre o assunto, de como ela se afastara, dos porquês, de como podiam tentar recomeçar.

No quarto de hotel, arrumaram a roupa. Ele deitou-se na cama, esperando que ela acabasse de se arranjar para saírem. Ela saíu da casa de banho, com um conjunto de lingerie novo. Fizeram amor. Tomaram banho juntos e voltaram para a cama. Jantaram no quarto. Depois, ela contou-lhe, a medo, do caso com o colega de trabalho. Fê-lo com sinceridade, mostrou-se arrependida e disse-lhe que fora a conversa que tinham tido e a posterior decisão conjunta de lutar pelo casamento que a tinham feito mudado de ideias. Sem essa conversa, teria saído de casa na semana seguinte.

Ele ficou ali, embasbacado, não com as novidades, mas com o volte-face. Ela parecia genuinamente incomodada com a sua atitude, reconheceu, pela primeira vez em meses, a mulher por que se apaixonara e com que casara.

Disse-lhe que a perdoava, escondeu-lhe que sabia, e prometeu-lhe que juntos dariam a volta por cima.

No dia seguinte, passearam pela ilha, ele ia pensando no planeado, envergonhado, mas indeciso.

O terceiro dia acordou enevoado, fizeram um pequeno passeio de barco, até umas ilhotas ao largo da ilha mãe.

O cansaço físico não os impedia de voltar a encontrar-se, à noite, nos braços um do outro. Era a lua de mel que nunca tinham tido.

No quarto dia, foram até à montanha mais alta da ilha. A estrada era íngreme, a vista deslumbrante. Quando chegaram ao cume, o nevoeiro impedia-os de ver o que estava abaixo, chovia e não se via vivalma. Eram oito da manhã, tinham saído cedíssimo do hotel, num dos miradouros, João pensou no planeado, era um local perfeito, que colocara de parte pela presença habitual de turistas e vendedores. Ela estava em cima do muro, ele chegou-se por trás e colocou os braços à sua cintura. "Cuidado, não caias."

Desceram a montanha, visitaram duas ou três terreolas, no vale, e partiram em direcção a uma praias desertas, promessa do gerente do hotel.

A praia era lindíssima, o tempo melhorara e ele aventurou-se na água. Passaram o resto da tarde ali. Lancharam perto da praia.

No caminho para o hotel, ela pediu-lhe para pararem junto à estrada. Anoitecia, o sol punha-se lentamente, lá ao fundo, no mar alto.

Sentaram-se, com cuidado, na parede que limitava a estrada da escarpa. Abaixo deles, uma vertigem escarpada. Olharam juntos o anoitecer, ele apertava-a, beijou-lhe a testa.

"Voltamos?", perguntou-lhe já quase na penumbra. Andando já na direcção do carro, ela dera por falta da mala, colocara-a do outro lado do muro, encostada a este. Voltaram, ele apanhou a mala e colocou-se em cima do muro, de costas para ela, "não se vê nada".

 

Os últimos dias tinham sido difíceis para ela. Voltara a sentir prazer em estar com o marido. Ainda o amava? Começava a acreditar novamente que sim. Aceitara a viagem como uma dupla oportunidade,poderiam tentar reatar o casamento, algo em que não tinha muita esperança, mas planeara a sua morte. Contara-lhe do seu caso, esperando fúria, dor, algum tipo de reacção, não antecipara o perdão. Pouco a pouco, fora-se habituando à ideia de continuarem juntos. Mas, no seu inconsciente tinha medo, de voltar tudo à normalidade abjecta do passado recente. Tinha medo dos silêncios que habitaram a sua casa durante quase todo o seu casamento, tinha medo de que esta promessa fosse outra vez ultrapassada. A felicidade entre eles tinha sido uma promessa vã.

"não se vê nada" Ela via, mas era como se não visse. O futuro era uma bifurcação e ela temia que as escolhas fossem novamente as erradas. Num ataque de fúria, empurrou-o, escarpa abaixo.

 

 

publicado por wherewego às 11:50

15.12.10

Andamos por aqui e por ali,

 sem saber bem porquê.

Somos levados pela melancolia,

pelo desespero,

toldados pela tristeza.

Encontraste-me ali,

quieto e só,

parado e cinzento.

Talvez tenhas pulado, falado muito,

talvez,

talvez tenhas dançado, gritado,

talvez,

mas foi o teu sorriso que me fez sair

da rua da amargura.

 

publicado por wherewego às 12:59

Ora, bem, este blog quer-se acima de tudo actualizado. Sendo assim, ainda que não tenha sequer uma semana de vida, já tem arquivos que remontam a 2004. Como? Comecei com o CoisasInsignificantes, passei para o Palavreando ao Acaso, entre outras aventuras inconsistentes, pelo menos as individuais.

Agora, mora tudo aqui neste local, menos o blog dos contos e textos ficcionais, por enquanto, pelo menos.

publicado por wherewego às 11:35

 

A arte não é bem a minha praia, tipicamente independente, mas com um toque de manga. Perco-me várias vezes porque há diferentes personagens que me parecem iguais.

A história é, aparentemente, simples de contar. Scott tem 23 anos, namora com uma miúda do secundário (Knives, de 17 anos) e mora com um amigo gay, numa casa de uma assoalhada, como a casa é pequena dormem os dois na mesma cama.

Um dia, Scott apaixona-se por Ramona, começa então a receber cartas dos ex-namorados de Ramona, para poder namorar com Ramona terá de vencer os 7 ex-namorados maléficos.

Junte-se a tudo isto um pouco de Kung Fu chunga e um sentido de humor doentio, non-sense e infantilóide e temos uma das séries mais viciantes dos últimos tempos.

Comprei ontem os dois primeiros volumes e pode ser que a época natalícia nos leve ao cinema, para ver a adaptação.

Porque é que Scott Pilgrim me agarrou? Pelo sentido de humor, há piadas ao longo de todas as páginas, umas mais escatológicas, outras mais non sense, mas a forma como vence o segundo namorado maléfico é genial, o quadradinho acima enuncia outra fórmula usada, em vez de contar o que se passou, os personagens simplesmente remetem-nos para livros passados, ou mesmo futuros.

Por outro lado, no meio do universo criado, que é tão familiar como estranho, (por exemplo, sempre que Scott vence um dos ex-namorados, estes esfumam-se e ficam em seu lugar algumas moedas - até agora, muito pouco dinheiro; outro exemplo é a familiaridade das lutas para os outros personagens, estão todos à espera, sabem todos que golpes especiais vão ser usados) há uma espécie de descrição realista de uma certa realidade, já vimos estes personagens em outro livros, filmes, séries, mas ainda assim estes são únicos.

Scott Pilgrim já me agarrou.

 

 

 

publicado por wherewego às 10:40

14.12.10

 

Sinceramente? Não, temo a noite de hoje e o primeiro debate das presidenciais.

publicado por wherewego às 13:45

Não sei se muitos pensarão em D. Sebastião, num dia como este. Da janela do meu gabinete, vejo uma névoa branca, que molda toda a paisagem.

Como terão ligado o nevoeiro com D. Sebastião? Porque não num dia de sol ou de chuva, por que é que ele há-de voltar num dia branco?

O nevoeiro faz-me lembrar num livro de João Aguiar, que termina com os Romanos a passarem por um rio, lá em cima no Norte, a idade não perdoa, não me lembro nem do nome do livro, nem se na passagem existe nevoeiro ou não. Mas os Romanos ultrapassaram o medo do desconhecido, dizia-se que passar o rio limpava a memória.

Duas atitudes distintas, entre o esperar por um salvador morto em desgraça ou dar o passo decisivo para o futuro. Assim como nós, portugueses, estamos hoje.

publicado por wherewego às 12:30

13.12.10

Filmes ou livros? Será assim uma escolha tão complicada?

Deixem-se usar a minha cultura televisiva para tentar responder.

Prefiro a Teresa Sampaio à Maria João Rosa.

Quem não apanhar, que veja tv.

publicado por wherewego às 16:02

Trabalhar é chato, mas descansar é mais, a sério. Um tipo esfalfa-se durante a semana; às vezes, tem de fazer horas extras, anda cansado, pode refilar ou não da sua sorte, mas quando menos espera apanha-se em casa, sem nada para fazer. Quando isto acontece, esqueleto no sofá, televisão ligada e comando quase a deitar fumo.

Ontem, à tarde, era assim o cenário lá na barraca. Estava na horizontal, fazendo zapping, e digo-vos, ou os tipos que fazem a programação de fim-de-semana são mentecaptos, vão passar o fim-de-semana fora com a família ou pelo menos dão-se ao luxo de ter a tv desligada.

Passei pelo Canal Hollywood, estava a dar o Knight´s Tale, com o gajo que fez de Joker. Que estupidez pegada, um campeonato mundial de cavaleiros, com rockalhadas de 2ª a servir de banda sonora. O personagem principal apaixonado por uma princesa sem sal, de rastas. Mudei de canal quando o tipo vai visitar o pai, cego (que o entregou na infância a um cavaleiro, para ver se este fazia alguma coisa dele) e um cavaleiro rival o vê por lá e desconfia das raízes plebeias do adversário. Que saudades do Tirésias...

Passo pela TVI que diz que O Amor Acontece, nomeadamente entre uma criada portuguesa em França, menos poliglota que Sócrates (foi aqui que me perderam), que se apaixona pelo patrão inglês. Bonito, bonito é perceber a publicidade velada aos cursos de línguas em MP3. A sinopse dizia que não era um filme, eram dez filmes sobre o amor. Não consigo perceber a veleidade da descrição, não há ali uma ideia interessante, um plano que valha a pena, dez filmes? Não há ali um, umzinho!!!

Um gajo dá a pensar em si na falta que lhe faz o trabalho, que amanhã já tem alguma coisa que fazer e quando se apanha no trabalho lembra-se de escrever um post, no blog acabado de inaugurar.

Aceitam-se propostas de psicanalistas não freudianos para consultar. Não gosto de freudianos, porquê? Isso pode ficar para outra altura.

publicado por wherewego às 15:18

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