Leio no i que o dia de hoje, 24 de Janeiro é, matematicamente explicado, o pior do ano, o mais deprimente do ano, tenho dificuldade em acreditar nisto depois da certeza que não há campanha eleitoral por mais um mês, claro que a vitória de Cavaco pode explicar a depressão, mas prefiro olhar para isto pela outra face da moeda.
Pela 2ª vez na minha vida decidi não votar. A pergunta que mais queria ver respondida, Para quê? , não foi respondida. Atenção que não perguntava o porquê, questiono a utilidade do voto e o custo-benefício pessoal. Ouvi a minha avó replicar algumas das últimas palavras do meu bisavô, sobre a importância do voto, compreendo-as à luz da ditadura. Tive duas cadeiras no Mestrado relacionadas com política e com o papel dos cidadãos na política e estou na mesma. O meu voto queda-se simplesmente no meu direito/dever? E depois? Terão os cidadãos hoje um papel que não o de eleitores? De que forma olham os políticos para os cidadãos? A Assembleia que nos representa e devia ser a nossa representação parece ser pouco mais do que um circo alimentado pelos soundbytes facultado a posteriori pelos media. Há programas políticos? Para que servem? Cinicamente, diria que simplesmente para cativar votos.
Factual e pragmaticamente, para que precisamos de um Presidente da República? Ouvir um Senhor que durante quatro anos fechou os olhos, limitou-se a dizer três ou quatro frases mais ou menos fortes e que acorda durante a campanha e decide dizer que estamos mal, muito mal. O que é que esteve a fazer durante estes últimos anos? Ouvi-o falar sobre os Açores, acredito que terá apanhado sol a mais. Pouco mais... Para que precisamos de um Presidente da República? Para quê?
Chafurdar na má língua, maldizer e acusações múltiplas sem uma palavra para a realidade, o que fazer com ela, como mudá-la. A campanha foi isto, como quase sempre é, pouca discussão altiva, muita crítica pessoal. Eu quero lá saber se a pessoa é séria, que raio de argumento é esse? Ser sério não me capacita para dar aulas, ajuda, mas não responde a nenhum pergunta sobre a matéria. Eu quero lá saber se a pessoa quer ir para Belém a menos que o matem, e não vai (em que ficamos), para Belém. Não percebi o que estes senhores queriam fazer em Belém, o que queriam fazer com o cargo. O único que me respondeu foi Alegre, "não coloquem um Governo e um Presidente de direita", uh?
Não, não fui votar, mas se querem culpar alguém culpem esta gente que fez tudo menos dar-me uma razão lógica para o fazer. É o meu direito? É o meu dever? Devo lá ir nem que seja para colocar um voto em branco? Tenho mais que fazer.
Há dez anos eu não era assim, orgulhava-me do meu direito de voto. Hoje, quanto mais leio, quantas mais entrevistas ouço, quantos mais debates vejo, menos vontade tenho de contribuir para a boa vida de poucos. Vejo pouca diferença entre um debate na Assembleia da República e um PPV de Wrestling, o poder está na forma como se ataca ou ignora os adversários. Enquanto não me derem uma razão para votar, desculpem, mas não me interesso por bibelots.