"Ojos de agua", primeira obra do galego Domingo Villar, é um pequeno romance policial (153 páginas) que nos introduz a uma dupla de investigadores, o Inspector Leo Caldas e o seu colega Rafael Estevez, dupla que regressa no seu segundo romance, "La playa de los ahogados".
O Inspector Caldas e Estevez investigam a morte de um músico de jazz, numa torre de apartamentos, na ilha de Toralla, Canido (Vigo), uma morte com requintes de malvadez, que me inibo de descrever.
Caldas insere-se na tradição de inspectores e detectives para quem a comida e a reflexão são parte indelével da caracterização, percebe-se que Villar leu Camilleri e Vazqués Montalban.
Uma das primeiras coisas que salta à vista é a opção pela ausência de títulos nos capítulos, Villar opta por uma entrada de dicionário em cada um dos capítulos, uma palavra com os seus diversos sentidos.
Sendo um primeiro romance, curto ainda por cima, Ojos de Agua é, antes de mais, uma apresentação da dupla de agentes e da Galiza, região onde a acção se desenrola.
Caldas fala pouco, é o cérebro da dupla, o seu nome é conhecido por toda a região, fruto da participação num programa radiofónico, "Patrullando en las ondas". Estevez é o oposto de Caldas, aragonês, enviado para a Galiza de Saragoça, mostra-se incapaz de perceber ou aturar a forma de ser galega. Estevez funciona como comic relief do romance, já que por ferver em pouca água, acaba por gritar com as suas testemunhas, quer sejam jovens ou adoráveis anciãs, com empregados de balcão e com quem mais apareça à sua frente. Imaginem como reagirá quando a investigação o levar (a ele, homofóbico) a um bar gay!
Paradoxalmente, Ojos de Agua preocupa-se mais na descoberta de um enigma (Quem matou o saxofonista) do que na definição dos personagens, na descrição do mal (como, por exemplo, Mankell, que nos coloca dentro da mente do assassino) ou da acção pela acção. Ao terminar o romance, fica-se com uma pálida noção de quem são estes dois personagens. Sabemos que Estevez tem quase dois metros e cerca de 130 quilos, de Caldas, sabemos que é calmo, que gosta de comer e que é assombrado pela memória de Alba, antiga, muito recente?, paixão.
Ainda assim, a curta duração do romance serve para descrever o espírito, os hábitos, a geografia e a culinária galegas.
Concluindo, Ojos de agua satisfaz, pelo estilo e pelo final convincente, mas abre o apetite para futuras continuações.
La playa de los ahogados já está na estante.