Chove lá fora e dentro de mim. Cliché, claro, mas não menos verdade.
Não morreu ninguém. Simplesmente, acordei cinzento - mais um cliché!
Como explicar que um sentimento nos possa transformar o ser, mesmo que por breves momentos? Sejam eles minutos, horas, ou dias? Que a brevidade depende sempre do contexto. Não costumo ser assim...
Estou num daqueles momentos em que tudo me sai mal, da boca, do corpo, as palavras saem afiadas, os jeitos tornam-se mais ameaçadores do que esperado, o olhar é menos simpático.
Acordar depois de uma noite bem dormida, ser incapaz de sorrir, olhar-me no espelho e sentir pena, algum tipo de asco e estranheza perante a pessoa que sou reflectida ali. Por alguma razão olhamos para fora de nós. Penso que poucos ficam felizes com o que vêem aos espelhos, eu sei que não sou um desses. Olhar é ver o que está perto de mim, longe também. É esquecer-me um dia inteiro do que sou, de como pareço. É esquecer-me da minha aparência, é ausentar-me de mim. E depois, passo por um espelho, por vezes um vidro, e tenho um vislumbre de quem eu sou, da matéria de que sou feito.
Quem és tu? Perdão, quem sou eu?
Vestir-me na estranheza de me cobrir, reinventar a idumentária, demasiado cinzenta, pouco negra. Vestindo um corpo que não bate com a alma, sendo alguém fisicamente diferente da pessoa dentro desse mesmo corpo.
Chove lá fora...
O meu estado de espírito não depende do tempo, já passei por isto em dias solarengos, quentes mesmo. Por isso, sei que andarei todo o dia a pingar, a chover este estado de espírito e é isso que mais me intranquiliza.
Espero que o sol apareça.