Not yours, my friend, not yours...
Enter the Worship Circle é o nome de um livro, supostamente, sobre adoração. Tenho andado com vontade em ler, pensar e meditar sobre o assunto. Aproveitando o e-bay, comprei o livro, escrito por Ben Pasley, mentor de um grupo de "louvor" - 100 Portraits.
Para quem conhece o(s) estilo(s) de adoração nas igrejas evangélicas sabe que não existe um só estilo. Há aquelas que só cantam salmos (nenhuma em Portugal que eu conheça), só Hinos, só coros, mistas... Depois há as que cantam acapella, com viola, com toda a panóplia de instrumentos e com muitas outras variantes.
Cada vez mais me faz espécie algumas das letras cantadas por esse mundo fora, e a quantidade de vezes que se repetem os coros, não os hinos, que são lentos pouco repetitivos, só os coros. De seguida perde-se a noção de louvor/adoração em comunidade. Ensinam-se 5 coros novos numa reunião, fazendo com que só quem está à frente cante, todos os outros são meros espectadores.
Depois há a escolha dos cânticos em virtude dos instrumentos. Só se canta o que fica bem, ou o que os músicos sabem tocar bem. Estive num acampamento em que todas as músicas eram iguais, e todas as letras diziam o mesmo. Um campista dizia ao ouvir uma música dos DZRT, que se poderia cantar a mesma numa próxima reunião, já que a letra era bem parecida. Pois...
E há o abanar a bunda, se ainda admito que alguém sinta vontade de mexer o tutu em alguns coros, abanar o rabo ao som do Castelo Forte enerva-me e afasta-me do verdadeiro sentido.
Existe também a mania de chamar um período de cânticos de tempo de louvor, depois há o tempo da pregação, o tempo da conversa, o tempo de ir embora e o tempo de... (mas confesso que o problema pode ser meu...)
Já perceberam a bílis, mas esta, mais o fel deve-se ao dinheiro gasto no livro de Ben Pasley. Confesso que não li muito. Li 6 capítulos e fiquei temeroso. Muitos lêem e incorporam a leitura no seu estilo da vida, na sia vida de adoração. O discurso é místico o quanto baste, mas também ecuménico e abrangente. Depois há verdadeiras pérolas, haverá outras, mas já decidi que não leria mais.
Deixo-vos algumas: I will worship wild and loose. Lá se vai a ordem do culto preconizada por Paulo. A adoração é um instinto e tudo o que me apeteça fazer faço. As tribos da savana ou das florestas não se diferem muito de nós, ou vice-versa.
Há, também, um desejo de confessar a Deus a imperfeição, mas não se menciona o pecado, e há uma diferença entre a imperfeição nomeada e o pecado. O autor diz que se deve confessar a Deus o desejo de ser "honesto e humilde" (tradução minha). Não tenho paciência para passar todo o texto. Nunca o autor refere a diferença entre o Criador e a criatura, já vão perceber porquê. Deus é simplesmente um tipo com um pouco mais de poder do que eu. E a interpretação de adoração é para Pasley um "simples" entrar "into the mystic". (1)
Pasley defende que o que está por trás de toda a ideia de Adoração não é o desejo de adorar a Deus, de lhe dar o que é devido (que nem sequer é nomeado, pelo menos no capítulo em questão) mas adoração é sentir-me inteiro. Adoração é a peça do puzzle que me faltava. Não tem a ver com Deus, mas comigo...
Depois há a minha parte favorita, Deus quer que nós lhe perdoemos.
How has God offended you? How has he let you down? How is God not doing what he should be doing? Or sgould he have done? Tell him. Do you think he can handle it? Mayne hHe should let us pound his chest and slap His face until we exhausted our anger.
Há alturas que um bom apedrejamento fazia falta, não concordam?
A ausência de versículos bíblicos ou de aplicação com base em textos bíblicos explica em parte a má qualidade do mesmo. Partir da experiência (o que resulta é bom) também pode explicar. O não conhecimento da natureza de Deus será o busílis da questão.
(1)Qual é o problema deste misticismo?
Agustus Nicodemus responde:
Para o liberalismo clássico, inspirado por F. Schleiermacher, religião era simplesmente “o sentimento e o gosto pelo infinito” e consistia, primariamente, em emoções. A experiência humana marcava os limites do que se podia especular acerca da realidade. O essencial do sentimento religioso é o senso de dependência de Deus, que produz consciência ou intuição da sua realidade. Fé e ação eram coisas secundárias. O sentimento religioso é algo universal, isto é, cada ser humano é capaz de experimentá-lo. É esse sentimento que dá validade às experiências religiosas e que torna o ecumenismo possível. Uma vez que se entende que religião é basicamente o gosto pelo infinito, e que encontramos esse gosto em todas as religiões, temos aí a base para dizer que todas as religiões são iguais e querem a mesma coisa, diferindo apenas na maneira como pretendem alcançar esse alvo. O macroecumenismo é filho do liberalismo teológico. (Entrevista sobre a teologia liberal)