A TVI abriu as hostilidades ontem, estreando a mini-série de vampiros, Destino Imortal. Para a semana é a vez da SIC.
Que me lembre não há grande nenhuma tradição vampiresca em Portugal. Desconheço livros, filmes ou outra coisa qualquer sobre vampiros de produção nacional, pelo menos com mais de 10 anos.
Todos sabemos da febre (eminentemente juvenil) actual com vampiros. Liga-se a tv, vai-se a uma livraria e é sabido que dificilmente não somos brindados com algum produto com os caninos mais afiados. Daí que as tvs aproveitem, ou tentem aproveitar, o filão.
Depois de uma estreia de quase duas horas o que se pode dizer de Destino Imortal?
Comecemos pela sinopse.
Miguel (Pedro Barroso) perde a mãe, num acidente automóvel e vai viver com a avó para Sintra. Na faculdade, conhece Sofia (Catarina Wallenstein), uma vampira que suporta a luz e os raios solares, por quem se apaixona.
O primeiro episódio mostra-nos o regresso de Miguel a Sintra, a tentativa de enquadramento na Universidade e num novo grupo de amigos (que neste momento é constituído por duas pessoas) e o início do relacionamento com Sofia. Sofia, que pertence a um clã (parece que com ela são quatro), suporta a luz do sol e o seu pai tenta replicar essa característica para benefício da sua raça.
Descobrimos que Viktor, o criador do pai de Sofia, está em Sintra. E acontecem alguns crimes.
Ah, e a irmã de Sofia, Valentina (Evelina PEreira), que de longe parece uma das irmãs de Edward de Lua Nova, é má como as cobras.
Já agora, uma das professoras tem uma forma peculiar de pronunciar faraó, "Fáráó". O que é bonito!
As minhas expectativas eram baixas, mas não sendo um clássico consegue ser melhorzita do que estava à espera. Pelo menos vi até ao fim, sem adormecer, o que não posso dizer de Crepúsculo.
Explico.
Destino Imortal cola-se a Crespúculo e Lua Nova. Pela temática, pela divisão entre vampiros bons e maus, mas acrescenta um pouco mais, um Dampyr ou Dampiro (não, não é um vampiro do Norte), que é o filho de um vampiro e uma humana e a tal vampira que suporta a luz do sol (ainda que seja mais pálida que uma sueca.)
O pastiche é óbvio, em algum guarda-roupa (de Valéria, essencialmente), na ausência de Baseball, coloca-se o personagem principal a jogar Rugby, a atracção entre um humano (mais ou menos) e uma vampira e o ar de ligação proibida que aquilo tem, para eles e para a família dela. A série é feita para cativar a quantidade de gente que leu e viu os filmes da série Lua Nova.
O que é que falha?
Muita coisa. O guarda-roupa é pavoroso, na cena em que o clã de Sofia é apresentado, Rogério Samora e Maria João Luís parecem artistas de circo demodé. A tentativa de dar uma aura gótica a Sofia funciona de vez em quando, mas às vezes ela é simplesmente foleira. O vestido cor de rosa com o espartilho preto berrava de tão mal que lhe ficava.
A escolha por Sintra parece acertada, mas a realização não a aproveita. Sintra poderia ser um dos personagens principais, a serra vai aparecendo, pouco, podia ser outra serra qualquer, mas a vila, por enquanto, está lá só porque sim. Um desperdício...
A universidade (o exterior) parece saída de um filme do Harry Potter com falta de fundos e ainda não percebi que curso é que aquelas criaturas estão a tirar. Já percebemos que é História, mas o aproveitamento das matérias é demasiado maniqueísta. De louvar ver uma professora a tirar o casaco de costas para a plateia. São assim os nossos professores, ou só os universitários? Os colegas dos personagens principais, para alunos de história, são um pouco burros no que à História diz respeito.
Os satânicos são um bando de gajos rebarbados que encontraram uma forma simpática (satanismo) de fazer-se às gajas. Fico mais convencido com os góticos da margem sul, mas está bem.
Os actores são fracos, mas não menos do que estamos habituados e um pouco melhores do que os dos Morangos. Não gosto da Catarina Wallenstein. Demasiado pálida, quieta, morta para o meu gosto. No entanto consegue ser mais viva que a rapariguita da Lua Nova, tendo em conta que a portuguesa está morta e a outra viva - um a zero para a Sofia.
Os efeitos especiais são fraquitos, mas funcionam, ainda mais quando pensamos que é uma série portuguesa. Se começarmos a fazer comprações, vamo-nos divertir muito. Os rosnares animalescos dos vampiros eram dispensáveis, ninguém viu o Gary Oldman? Os efeitos visuais para dar um ar animalesco desculpam-se. Nas cenas que lidam com os mortos nota-se alguma inteligência, notamos a falta de meios, mas preferimos isto a cenas foleiras.
A cena em que as duas irmãs se angalfinham as duas e pulam, era dispensável, é rídícula e a encenação demasiado primária.
A realização é fraquinha e por vezes hilariante. Uma das cenas em que Viktor aparece no canto esquerdo do ecrã, é tão ridícula que quase apago a tv.
O que é que funciona?
É uma mini-série. São só seis episódios, com objectivo de se seguirem mais algumas mini-séries. Gabe-se a sabedoria. Parece que a série da SIC são cento e muitos episódios....
Há uma noção do que se pode ou não fazer e fizeram-se algumas escolhas acertadas.
Não é pior do que Crepúsculo ou Lua Nova, tendo em conta a falta de dinheiro e meios, até consegue ser mais tolerável. Pena é o pastiche.
Não vai ser um grande marco, pelo menos no plano estético e no plano narrativo. Continuamos a não perceber o que conseguimos fazer com grande qualidade e, caindo nas modas, tentamos (parece-me que com algum sucesso) tirar proveito delas. Sinceramente, esperava pior. Consegue ser melhor do que os Morangos, Floribella ou outros produtos de sucesso. Não preza pela inovação, mas consegue ser um escape (divertido).