Há coisa de cinco anos passei fugazmente pelo ensino privado, como professor.
Fugazmente porque me tinha sido feito o convite, que aceitei sempre de pé atrás já que ia começar, poucas semanas depois, a dar aulas no Técnico. Preferi dedicar mais tempo ao Técnico do que unir as duas oportunidades.
Mais vale prevenir do que remediar.
Ainda assim, e pelos 2 ou 3 dias, poucos, eu sei, de experiência e com os cinco anos de ensino de Português para fins específicos, no Ensino Superior, para alunos de Ciências e de Construção Civil não me parecem assim tão lineares os argumentos em relação às diferenças entre ensino privado e público.
Haverá sempre escolas muito boas num e noutro regime. Haverá melhores condições no privado, esperemos...
O que muita vez me choca é a média de determinado aluno, no caso em Português, e as competências demonstradas.
Nas poucas aulas que dei na escola privada não notei uma tão grande divergência no que diz respeito aos conhecimentos, conferi, porque cheguei no início do segundo período, uma clivagem entre os conhecimentos reais e a nota obtida.
Clivagem esta confirmada nos primeiros anos no Técnico. Alunos que chegavam com médias finais altas, e que tinham e têm enormes dificuldades na expressão do Português, falado e escrito. Válido para alunos tanto do privado, como do público.
E isto faz-me confusão.
Primeiro, que se faça um enorme esforço para obrigar (que não resulta) os alunos a ler determinado autor, que os alunos não percebam o que lêem (quando o fazem) e que não consigam produzir por escrito um argumento ou uma opinião, organizada e coerentemente, sem erros (ou mesmo com) ortográficos.
Depois, que não haja, no Secundário, uma cadeira ou algumas aulas, divididas pelas diferentes cadeiras, com o intuito de trabalhar a comunicação oral ou a apresentação de trabalhos oralmente.
Com o novo estatuto do aluno temo que a situação piore um pouco mais. Se é verdade que os que não gostam de estudar ou que vêem o 12º ano como uma meta colocar-se-ão à sombra da bananeira, poderá ser uma oportunidade para quem gosta de estudar ou quer seguir um caminho no Ensino Superior poder dar umas escapadelas. Parece-me, como alguns têm dito, o caminho do facilitismo. Trabalhar-se-á melhor a comunicação com este Estatuto? Provavelmente, porque os alunos mais destabilizadores não estarão na aula. Veremos...
Voltando ao início, seria interessante, ver até que ponto as notas dos alunos dos privados seguem em alta no ensino superior. Muitas vezes isso acontece, mas acontecerá sempre?