A partir de 2001, comecei a desiludir-me com os livros de Aguiar.
Achei desnecessário o
Diálogo das Compensadas, quiçá obra mais interessante se vertida para reportagem, como desnecessário
O Sétimo Herói, pastiche pouco concreto que tenta glosar o fantasia, com base numa antologia que o autor comprou na FNAC (numa das entrevistas o autor dizia que tinha sido tentado a descobrir se conseguia fazer melhor do que os contos que tinha lido. Podia ter, das duas uma, ou escolhido um melhor canon ou olhar para a fantasia que já fizera anteriormente, de uma forma mais séria, mesmo a brincar.
Foi assim que olhei, num misto de curiosidade e receio, para O Priorado do Cifrão, uma obra conscientemente irónica e crítica ao boom da literatura de teorias da conspiração, com foco na obra de Dan Brown.
Gostei? Bastaria o regresso de Santo Adriano para me aproximar emocionalmente do livro. Felizmente, faz mais do que fazer regressar o herói da trilogia anteriormente citada.
O Priorado do Cifrão goza com toda a histeria (editorial, inclusive) à volta dos acontecimentos relacionados com os best-sellers baseados em teorias da conspiração, mais ou menos esotéricos, que (opinião dos personagens do livro) são má literatura, má exegese, má História, mas que conseguem o sucesso a partir da má educação dos seus leitores, e do peso dos grupos transnacionais e transsectoriais de que as editoras fazem parte.
Para isso, João Aguiar usa e abusa do seu conhecimento dos gnósticos e das discussões no seio da Igreja Cristã ao longo dos séculos. O crítica ao país real e a homossexualidade são temas recorrentes na sua obra, que aqui continuam a persistir.
A história é recambolesca? Não mais do que muitas outras que por aí andam nos escaparates. Mas a figura de Miguel é extremamente portuguesa, nos hábitos (ou em alguns) e no modo de ser. As mortes são mais que muitas, as organizações em combate também, e não falta a presença de agentes do MI5, comparados ou comparando-se com a Judite portuguesa ou com o SIS.
João Aguiar fez o que não tinha feito em O Sétimo Herói, criticou um género de forma séria, nunca perdendo o humor. O que é sempre uma mais valia.
Dentro da produção do autor neste novo milénio é, para mim, o melhor, dos que li. No conjunto da sua obra não envergonha.
Um livro a descobrir, para rir e concordar com muitas das críticas que são feitas. Pensando no que lemos e porque lemos, e na necessidade de ter uma atitude crítica perante o que é lido.
Altamente recomendável.
PS. Os clichés estão todos lá. Se não estivessem, a glosa teria sido pouco eficiente.
A crítica feita aos grandes grupos editoriais (que detêm várias editoras)é certeira, e certamente pessoal. Este é o primeiro livro de Aguiar pela Porto Editora, e há lá no meio considerações de um autor (Adriano, quem mais?) sobre o tratamento deste grandes grupos.
PS2. Uma vez perguntei a João Aguiar se ressuscitaria Santo Adriano. Ele respondeu que de momento, Adriano estava morto, por assim dizer.
Aguardo com ansiedade mais uma ressurreição deste "Santo".