Portugal convidou o presidente do Zimbabué para estar presente na Cimeira Europa-África. Mesmo tendo feito o convite, o ministro Luís Amado tem assobiado para o ar que preferia que Mugabe não estivesse presente. Mas o convite está feito e a decisão não depende dos desejos do sr. Amado.
Tanto não depende que, em Moçambique, Mugabe não disse muito, mas disse o essencial: «sim, vou estar em Lisboa».
O que é chato. É que Gordon Brown, o primeiro-ministro inglês, e vários dirigentes europeus da Holanda, República Checa e Dinamarca, já ameaçaram não vir à Cimeira.
João Cravinho, hoje de manhã, comentava o(s) episódio(s). «Não é de forma nenhuma um embaraço diplomático. Nós lamentamos profundamente que aquilo que há de inovador e transformador nas relações entre a Europa e África esteja a ser ofuscado por alguma obsessão da comunicação social em torno da presença do presidente do Zimbabué, claro que a presença dele constitui um grande atractivo para o jornalismo, mas o que há de substância vai ficar para a história, e quando se fizer a história da cimeira de Lisboa, a presença de Mugabe será apenas uma nota de rodapé».
Ora, parece-me fantasioso atribuir o interesse a Mugabe pela Communicação Social a uma obsessão, ainda para mais vindo do Governo Socialista. Perante a recusa de vários dirigentes europeus, Cravinho opõe com uma obsessão. Parodiando os Gato, e o burro sou eu?!
De qulaquer modo, não me parece que haja grande necessidade de criar notícias sobre a vinda de Mugabe, não mais do que as da vinda de Chávez ou da recusa em receber o Dalai Lama. Se Mugabe é culpado pelo estado da economia do seu país, pelas eleições de fachada e pela supressão da oposição, o que temos nós a ver com isso? Sócrates e o seu Governo já mostraram que fazem o que querem, direitos humanos à parte, para levar água ao seu moinho.
A recusa de outros dirigentes europeus só mostra que, às vezes, mais altos valores se levantam, mas nunca tão altos como a imagem e o que ficará no papel. Nisso, Sócrates é indefectível.