Guillermo del Touro assina aqui um fortíssimo filme sobre violência, sacrifício e uma parábola sobre a Espanha Franquista.
A história conta-se em poucas palavras, Carmen uma viúva com uma filha (Ofélia) muda-se para o campo, para junto do seu novo marido o amoral Vidal, capitão Franquista que luta contra os resistentes.
Ofélia conta histórias ao seu irmão por nascer e é leitora ávida de livros de fantasia. O narrador diz-nos que ela é uma princesa de um mundo mágico, que se perdeu ao visitar o nosso mundo. Na sua nova casa conhece um fauno, que em troca de três provas promete-lhe devolvê-la ao seu verdadeiro mundo.
Penso que o filme tem sido vendido como algo que em verdade não é, mais do que um filme fantástico, é antes demais um filmo brutal e realista, ainda que com um indissociável toque de magia. Ora, publicitar o filme como um filme fantástico pode afastar muitos dos que gostarão do filme se o virem, é que é possível aos adultos cépticos e realistas gostar (e muito) deste filme.
O filme é belíssimo, visualmente é estonteante, mas a história é humana e dramática, fiquei indeciso sobre qual narrativa (o filme tem duas) é mais forte, mas a partir do momento que o espectador decida qual o sentido do filme torna-se claro qual ganha maior importância.
A violência do regime franquista é descrita brutalmente, e a rigidez (a)moral é descrita cruelmente. A par disso somos levados a um mundo mágico mas nem por isso menos perigososo. Ficamos indecisos sobre a posição moral do fauno e esse é um dos aspectos positivos do filme, o facto de não sabermos em que terrenos estamos a pisar.
De resto, o filme é uma parábola sobre os regimes autoritários, sobre o sonho, sobre o perigo, sobre sacrifício, sobre amor, sobre resistência.
Um dos filmes do ano de um excelente realizador, que parece apontar para maiores e mais complexas produções.