Tiveram lugar no passado dia 22 de Maio as Provas de Aferição de Língua Portuguesa do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico em Portugal. Consultando o documento Critérios de Classificação, disponível no sítio do Ministério da Educação, fica-se a saber que a prova, para um e outro ciclo, é constituída por duas partes. Na primeira parte não são considerados os erros de ortografia. A justificação dada pelo Ministério é a de que se pretende focar a aferição apenas na competência de leitura e no conhecimento explícito da língua. Passemos adiante.
Para a segunda parte, dedicadas à elaboração de um texto escrito, apresenta-se uma lista que especifica o que se considera ser um erro ortográfico. É erro ortográfico o erro de acentuação, o erro de translineação e a incorrecta utilização de maiúsculas e minúsculas.
Não estão arrolados nesta lista os erros que afectam a forma gráfica da palavra pela selecção incorrecta de grafemas («geito», «análize», «bossula»), nem os erros de morfologia verbal (na distinção entre «voo» e «voou»; contasse» e «conta-se»), nem os erros de individualização de palavras («apartir»; «porcausa»; «derrepente»).
É de lembrar que estes erros são indicadores de uma aquisição deficiente de mecanismos de leitura. Dificilmente se pode garantir que o aluno que erra a forma das palavras – ou seja, que em momentos do seu desempenho está ainda no nível da decifração – é capaz de apurar, na leitura, de modo satisfatório, o sentido de um texto.
Mas, verdadeiramente, não se diz, no texto dos Critérios de Classificação, que estes erros não devem ser considerados. Eles simplesmente não aparecem listados. À enumeração (incompleta) apresentada, acrescenta-se isto: «entre outros». Será que o professor corrector deve considerar os outros ou não? E que outros, então?
Não se sabe. Depende dos resultados pretendidos.
Ana Martins (Consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa) no Sol de 2 de Junho de 2007