Eu ia escrever qualquer coisa, mas varreu-se-me do pensamento. Ah, já sei!
(É incrível a quantidade de informação que passa pelo meu cérebro, que quero agarrar para com ela dizer ou escrever qualquer coisa e momentos depois PFFFFUUUI!)
Bem, agora que já me lembrei, voltemos a ela. Cada vez leio mais policiais, são o género que mais me agrada. Depois de Henning Mankell pouco mais há que valha a pena, tirando um ou outro clássico. Mankell agrada-me pela dinâmica da trama, pela definição e descrição dos personagens, pela (des)humanidade destes, pela forma como vemos o mundo e as suas incongruências. Falo, atenção, do Mankell que escreve policiais, o outro não me apela tanto, embora as temáticas continuem lá.
Ah sweet contradictions! oh, well!
Quem me conhece ou à minha dvdteca sabe que o policial, em especial as séries policiais, ocupa um local bem definido e guardado. Há por lá séries policiais inglesas e nórdicas, poucas americanas. E por uma boa razão, os americanos às vezes são demasiado americanos para o meu gosto. Comparem-se as boas séries policiais americanas, que são poucas (posso estar a ser injusto, mas a bem do meu argumento tem de ser assim!), com as boas séries policiais europeias (assim do pé para a mão - Rebus, Van Veeteren, Wallander, Prime Suspect, Silent Witness, entre outras. Ah, Wire in the Blood, uma série tão boa quanto violenta, mas que devia ser essencial para os amantes do género. Para os que têm estômago para ela, claro!) e vemos uma diferença essencial. A profundidade das personagens, dentro e fora do seu espaço de acção, nomeadamente a definição do eu.
É isso que me cativa em Mankell, eu sei quem e como é Wallander, às vezes mais do que quereria, mas é isso que faz a série tão boa, e isto aplica-se tanto a Wallander, como aos restantes personagens, quer co-adjuvantes quer vilões.
Ai, a verborreia...
Daí que tenha andado à procura de outros autores nórdicos, essencialmente, para ler alguma coisita boa e sangrenta no verão. Como se a qualidade fosse uma característica geográfica. Se calhar é, onde andam os policiais portugueses? Não há?
Por 12 euros comprei quatro livros, três de Arnaldur Indridason.
Claro que caí na esparrela da compração, e claro que a comparação era com Mankell, claro que todas as comparações são pífias. Claro que não é tão bom, e algumas das características me afastaram um pouco. Claro que Erlendur (personagem principal) é divorciado, é bom polícia, irrita os colegas, é obcecado, come comida empacotada, é divorciado e lá para meio da série vêmo-lo com alguém na cama. Podia ser Wallander, mas não é.
Os romances são diferentes dos de Mankell, a começar pela ambiência.
Passam-se na Islândia, mas há menos contexto social, análise social do que em Mankell. Há menos frio, menos neve, ou melhor o ambiente está lá, mas só como contexto nunca como uma realidade que nos atinge.
Erlundur tem uma filha toxicodependente. Confesso que foi uma das coisas que me afastou. O relacionamento com a filha até pode ser verosímil, mas a ideia de um homem que abandonou a mulher e os filhos, que mais tarde o buscam, na verdade é a filha que o busca conscientemente, não me interessa minimamente. Inevitavelmente, cai-se nos clichés, ainda que com algumas variantes interessantes.
Li Tainted Blood e Silence of the Grave sem grande interesse. Fui lendo, conhecendo os personagens, mas nunca verdadeiramente empolgado.
Ainda bem que comprei três livros de Indridason, porque foi o terceiro, penso que o quarto da colecção, que realmente me agradou, não sei se converteu.
The Draining Lake aborda o comunismo na Islândia e os "erasmus" Islandeses em países comunistas na década de 50 e 60. É um romance negro, dorido e desencantado com o comunismo. Há por ali berros contra o comunismo e os seus efeitos, a diferença entre comunismo e socialismo, a caça às bruxas e a caça aos não comunistas.
The Draining Lake consegue ser uma boa suma do que já tinha lido, mas acaba por ser mais concreto e objectivo. No entanto, The Draining Lake não é um policial, é a história de uma investigação policial, o que é importante.
Há um crime, perpetado há 40 anos, não há uma caça ao homem, há uma espera, a do criminoso, pelos investigadores.
Penso que esta é a principal diferença quando comparamos com Mankell. Em Mankell há uma investigação, mas uma perseguição e fuga, aqui há somente a investigação. O assassino admira-se do tempo que demora ser apanhado/encontrado.