03.08.07
Continuo a pensar em The Hoax/Golpe quase Perfeito.
Foi dos filmes que mais prazer me deu ver nos últimos tempos. Uma das razões é ser um caleidoscópio de temas.
Interessa aos escritores e leitores. A questão da escrita, a questão do escritor (poeta) como fingidor, que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Pessoa está presente no filme, como interpretação claro! A noção da mentira como verdade se for dita muitas vezes e dita convincentemente.
A questão da moral, porque nos apaixonamos pela personagem, perguntamo-nos como é que ele se vai safar e vemos que a determinada altura a imoralidade anda de mãos dadas com um lunatismo deliciosamente doido.
A queda do mundo criado que não tem nada a ver com a realidade e a forma como a realidade entra nesse mundo e o traz, Irving (por momentos?), de volta. As cenas finais intrigam o espectador, mas mostram a confusão psicológica em que Irving tinha caído. Resta ler o livro do próprio para saber se a leitura de Hallstrom é correcta e se Irving conseguiu salvar-se da patologia.
Um filme a ver...
publicado por wherewego às 14:12

02.08.07
Ontem comemorei 7 anos de namoro, mas nem a comemoração convenceu a namorada a acompanhar-me à antestreia de Golpe quase Perfeito de Lasse Hallstrom. A razão? Uma antipatia por Richard Gere!!!
Assim e apanhado desprevenido à última da hora, ainda consegui arranjar companhei a arrastei o N. comigo.
Se a semana passada tinha ficado desiludido com Os Simpsons, esta semana fiquei muito agradado com este filme, filme do qual pouco sabia, ignorava mesmo ser realizado por Hallstrom, realizador do muito amado cá em casa As Regras da Casa.
Golpe quase Perfeito narra a história de Clifford Irving (Richard Gere), um escritor que na década de 70 quase conseguiu enganar meio mundo, ao vender a publicação de uma auto-biografia do excêntrico milionário Howard Hughes, que já não aparecia em público há alguns anos. O filme retrata o processo criativo, as diferentes formas de pesquisa, a escrita do mesmo e a forma como Irving conseguiu convencer toda uma editora e jornalistas de que o livro era real.
O filme acaba com uma canção em que podemos ouvir nem sempre tens o que queres. Gere é brilhante no seu papel, maníaco quanto baste, tenta convencer-se a si mesmo antes de convencer os outros de que o que diz é verdade. A personagem de Gere é divertida, mentirosa, maníaca, manipuladora, sonhadora.
O filme transmite de forma decente o ambiente político dos anos 70, o Vietname e as dificuldades governativas de Nixon.
Essencialmente é um filme sobre um embuste impossível e a forma como Irving o vê como real. A personalidade de Howard Hughes premeia todo o filme, mas mais do que a busca pelo verdadeiro Hughes o filme mostra a busca obsessiva pela mentira. Neste sentido é mais obssessivo que Zodiac de David Fincher, mas aqui mais do que a busca pela verdade é a busca por uma verdade possível, que alimenta a personagem e lhe toma a vida.
Nem sempre temos o que queremos, e nem sempre devemos buscar o queremos sem olhara a meios.
O filme surpreendeu-me, e a questão da verdade/mentira e a forma como vivemos com ela preenche todo o filme, arrisco-me a dizer que é o seu tema principal. Nesse sentido é moralista, mas não simplista.
É um filme divertido, mas também mais negro e pesado, uma dicotomia que Hallstrom maneja com mestria. Alfred Molina é também brilhante no papel de Haskins, o amigo de Irving, co-autor do livro que vai colocando sumo e consistência neste. Destaquem-se também os actores secundários, todos em excelentes prestações, Marcia Hay Harden (excelente), Julie Delpy(desculpa para mostrar a mamoca), Eli Wallach(que saudades do porco cowboy), and Stanley Tucci (palmas para ele também).
Uma excelente surpresa.
8/10
PS. Foi a primeira vez que fui ao cinema no Campo Pequeno, e pelo menos a sala 2 é acima da média, o som é excelente, e as cadeiras não no tornam o traseiro quadrado, como a semana passada no Corte Inglês.
publicado por wherewego às 17:13

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